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A Dificuldade da Leitura sem Julgamento

Para textos simples, há quem demonstre ter dificuldades em interpretar a língua Portuguesa, pois além das frases terem sentidos e significados profundos, para considera-los, é necessário fazer-se um exercício auto-comparativo, o que pede um "espaço" de manobra, isto é, pede uma pré-abstração. 

Se por vezes um simples livro infantíl pode despertar imensas conversas sobre vários temas, imagine-se quando os livros não são dedicados para crianças. 

Mais profundamente, a linguagem jurídica e legal é realmente difícil de interpretar, sabendo que os juízes e advogados, também demonstram essa dificuldade, mesmo que tenham ora licenciaturas ora douturamentos. 

Uma das maiores causas da dificuldade interpretativa, não está na incapacidade dos leitores, mas num ciclo histórico de dar relevo às personagens, pondo de lado o conteúdo em causa, isto é, os factos e eventos que acontecem na relação das personagens. 

Exemplo: 

O João que estava com fome, viu que a Maria tinha comida e como tal sem que ela se apercebesse, tirou-lhe um pequeno pedaço de bolo sem a avisar. Afinal de contas, a Maria disse que estava a fazer diéta e não iria comer tudo, sendo que o João tem dificuldades económicas e a Maria não. 

As discussões sobre este exemplo, tendem a focar-se nas personagens e a esquecer o evento que aconteceu, tentando justificar a escolha das personagens para pôr de lado o conteúdo que poderá ser interessante discutir. 

Algumas pessoas irão dizer que "O João teve o direito de ter tirado a comida à Maria, porque ela disse que não iria comer tudo e por isso, para não haver desperdício, a escolha do João não tem nada de errado, pois afinal o João é pobre e a Maria não". 

Outras pessoas irão considerar que "O João não deveria ter tirado a comida à Maria, sem a sua autorização e por isso a escolha do João é errada e o João deveria ser castigado por isso". 

Se fizermos uma abstração do texto, poderemos pensar que não existiu uma comunicação acertada, ora pela Maria ora pelo João, como também não houve uma sensibilidade ora do João pela Maria, ora da Maria pelo João. 

Certamente que a Maria não terá ficado chateada com o João, caso saiba que ele tem dificuldades económicas, além de ter declarado que a comida que tinha, era demasiada. Mesmo que o João tivesse a obrigação cívica de comunicar à Maria sobre a sua necessidade de comer, pois não tinha forma de encontrar uma alternativa para ele, sendo que o João só tirou uma parte do todo, não se pode atribuir maldade ao João, pois terá deixado uma parte para ela. 

Poderiamos ainda falar sobre a importância da comunicação entre ambos e, sobre o que cada um tinha em mente, para que o evento do roubo fosse desnecessário e como tal, a Maria tivesse oferecido livremente um pedaço do excesso de comida que tinha, levando o João à necessidade de agradecer o gesto. 

Há sempre uma parte que sente a necessidade de punir e outra parte que sente a necessidade de educar, sendo que a maioria gosta de julgar. Afinal o texto não fala sobre como a Maria reagiu quando reparou que uma parte da comida que tinha, tinha desaparecido. O texto também não diz se o João contou à Maria que lhe tinha tirado comida. Todo esse conteúdo foi omitido, para oferecer a liberdade de imaginação aos leitores e demonstrarem a sua capacidade especulativa sobre o evento em causa. 

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