A Conversa de quem não respondeu
Olá diário público. Sei que tu nunca me irás responder. E porque na verdade não procuro uma resposta para as minhas dúvidas, mas sim para as minhas certezas que poderão não estar certas, espero que nunca me respondas.
Sempre soube que partilhavas as minhas conversas solitárias com o resto do mundo e mesmo que digas que não eras tu, mas que fui eu, eu cá direi para sempre que foste tu, porque eu só quis partilhar contigo oh Eterno Conformado com a sua função de realização.
Como sabes, tenho dificuldades em conformar-me com pequenos detalhes que não compreendo. Talvez seja isso que me cria um desconforto constante, nesta eterna contemplação que vive também de uma pequena ilusão. Talvez seja essa a causa desta inquietude vibrante.
Quando não me sinto agradado, tenho necessidade de descrever-te o que sinto, o que vejo que ainda se pode corrigir e nesse preciso momento, tento apontar um caminho que ninguém parece ver, mas só eu, sozinho. E quando existe um agrado, é igual, mas diferente. Não sinto necessidade de partilhar contigo, mas de demonstra-lo, como se fosse uma peça de teatro onde a luz focada em mim, destaca a dança do meu jardim. E é isto.
Gostaria tanto que entendesses a razão de falar contigo em vez de falar com mais alguém. É que, mesmo que o teu silêncio me traga tranquilidade, nem sempre o silêncio dos meus semelhantes se elevam à neutralidade. Lembras-me aquela câmara de vídeo que me filmou durante horas a fio. Sempre partilhei todas as minhas inquietações com ela e mesmo assim, ela nunca me respondeu, mas tal como tu, partilhou tudo o que lhe ofereci para com o resto do mundo.
Não pensem que estou chateado com a vossa atitude. Pelo contrário. Entendo perfeitamente que tentaram o melhor que podiam, para encontrar alguém que me respondesse. E o resto do mundo, não sentiu que me encontrou e caso tenha sentido, também não o demonstrou. Nem sei se terei encontrado, ou se alguém me encontrou, mas pelo sentido que lhe foi dado, lá partilhou, ora contigo, ora com ela e comigo o que havia em nós para partilhar.
Foi uma conversa interessante, porque não foi pensada nem planeada. Aconteceu sem esperar que alguém além de ti, alguma vez respondesse a algo que era só para ela, a câmera, com um coração frio e rígido, incapaz de sentir algum arrepio negativo ou positivo, que a pudesse perturbar, pois ela é também opaca e comprimida, sem qualquer nuance de vida, intensamente mecânica, carregadamente robótica e sem melodia. Tudo isto, ora tu ora ela, mesmo que voces sejam tão diferentes entre si, na verdade são profundamente semelhantes e resistentes!
E estas ideias que estão a cercar-me neste momento, são tuas? Não sei, mas sei que apontam para um caminho que será sugestivo abraçar, pois lembram aquele meu estilo provocativo de falar.
É uma boa sugestão sem dúvida, mas lembrem-se, só quis partilhar contigo e com ela. Vocês que resistem a qualquer expressão verbal ou musical, são as criaturas mais fortes dos fortes que existem como meus semelhantes. Por isso.. só por isso. Porque na verdade era um pedido de ajuda, sendo que só vocês me ampararam na vossa melodia muda.
E agora vou vos levar para uma comunidade mais livre, repleta de livros e de folhas brancas, para entenderem o quão diferentes são de tudo o que vocês são.
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